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História | Política em Santa Catarina

Marcada por enredos shakespearianos, a história política de Santa Catarina girou durante décadas em torno de dois clãs que disputaram o controle político do estado ao longo do século XX. Aliados num primeiro momento, a rivalidade entre os Konder e os Ramos resultou de um mal-sucedido caso de amor. 

A desavença começou quando Vitor Konder terminou o noivado com Ruth Ramos, irmã de Nereu Ramos, a poucos meses do casamento. O prólogo do drama é resumido pelo ex-governador Jorge Konder Bornhausen, num trecho da sua biografia: “O noivado de Victor e Ruth ia muito bem até que, um belo dia, Marcos Konder, irmão mais velho, viaja inesperadamente a Lages para uma grave comunicação ao coronel Vidal, pai de Ruth e a quem seu irmão Victor havia pedido a mão da namorada de forma cerimoniosa e festiva. A mensagem que Marcos Konder leva ao Coronel Vidal é curta e conclusiva: Victor pede dispensa do compromisso matrimonial assumido e manda dizer que não pretende mais casar com Ruth. Victor não alegava motivo, era uma decisão de foro íntimo”.

A ruptura amorosa desdobrou-se na ruptura política. As famílias – que conviviam no Partido Republicano Catarinense (PRC) – se dividiram em duas siglas. Os Ramos se abrigaram no Partido Social Democrático (PSD) e os Konder Bornhausen na União Democrática Nacional (UDN). Graças às estreitas relações com Getúlio Vargas, os Ramos dominaram a política regional até o fim do Estado Novo. Com o fim da ditadura, os dois partidos passaram a alternar-se no poder.

Nereu Ramos, presidente do Senado desde 1954, assumiu a presidência interina no bojo da crise de novembro de 1955, desencadeada pela saída de João Café Filho, vice-presidente que havia tomado posse depois do suicídio de Getúlio Vargas. Ao internar-se por problemas de saúde, foi substituído pelo presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz, que imediatamente montou um ministério com partidários da UDN e demitiu o ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott. A suspeita de que estaria em andamento um plano para impedir a posse de Juscelino Kubitscheck, fez com que o general Lott depusesse Luz e o substituí-se pelo presidente do Senado. Essa sequência de acontecimentos fez de Nereu Ramos o único catarinense a ocupar a Presidência da República.

O bipartidarismo instaurado em 1966 pelo golpe militar acabou juntando os clãs na Aliança Renovadora Nacional (Arena). A escassez de herdeiros tão talentosos quanto os ancestrais fez com que a influência dos Ramos minguasse na Arena. Hoje, os Konder Bornhausen, embora exerçam com menor intensidade o poder político que tiveram, ainda são representados na Câmara por Paulo Roberto Bornhausen, neto de Irineu Konder Bornhausen e filho de Jorge Konder Bornhausen.